Num dos primeiros cursos que fiz na área de transportes ouvia minha professora de Planejamento de Transportes falar a seguinte frase: "O melhor negócio do mundo é uma empresa de ônibus bem administrada. O segundo melhor é uma empresa de ônibus mal administrada".
Lá se vão mais de vinte anos desde que ouvi a frase supracitada. Era uma frase que falava do grande negócio que era ser empresário de transporte por ônibus. ERA. Os tempos eram outros. A lógica do deslocamento era diferente. A capacidade de aquisição de veículos particulares também. A própria concorrência com outros modos de transporte coletivo e particular, público ou privado, veio alterar a lógica da antiga frase.
Falando em termos de Brasil, mesmo considerando o discurso, já antigo, de que há a necessidade da priorização do transporte coletivo, o que se observa é uma realidade totalmente diferente nos sistemas de transporte coletivo, e, por extensão, nas empresas operadoras.
É verdade, registre-se, que parte da culpa é das próprias empresas. Durante anos "deitaram em berço esplêndido", sob a lógica da frase citada no início do texto, onde uma demanda cativa, crescente e até certo ponto, acomodada gerou uma também acomodação dessas empresas. A falta de preocupação com a qualidade de atendimento pelos operadores, dos equipamentos disponibilizados e da presunção de que teriam o controle da situação eternamente, foram alguns dos erros cometidos pelos empresários do setor. Também responsável foram os órgãos e gestores do Poder Público, nas diversas esferas, que não atentaram para a necessidade da busca da qualidade e melhoria do atendimento dos sistemas de transporte ditos convencionais. Até mesmo quando buscaram qualidade não foram competentes para a otimização e garantia da economicidade desses sistemas. A questão tarifária, citada em outros textos desse blog, também é causa dos problemas que geraram a crise (ver os artigos https://tce-mobilidade.blogspot.com.br/2017/02/calculo-tarifario-desvendando-caixa.html e https://tce-mobilidade.blogspot.com.br/2017/02/calculo-tarifario-desvendando-caixa_9.html) Esses gestores foram omissos, despreocupados, desatentos e coniventes, até mesmo com práticas de ilicitudes.
A mudança do nível de motorização, até certo ponto intensificado por incentivo ao uso do automóvel, quando foi reduzido o valor de impostos, reduzindo o valor dos veículos, além da permissão para aquisição em trinta e seis, quarenta e oito, e até setenta meses. Automóveis e também motos, pelo baixo valor, trouxeram uma mudança considerável na matriz de deslocamento das pessoas. Com consequências para o aumento dos congestionamentos, dos acidentes e redução crescente do número de passageiros no transporte coletivo por ônibus. Como "reverso da medalha" em relação à "bonança" que permitiu a aquisição de veículos por segmentos da população, antes impedida de ter esse acesso, tem-se o aumento dos deslocamentos a pé. Quando há momentos de declínio econômico, de certa forma comuns no País, há um aumento dessa forma de deslocamento. Mas o transporte ativo, seja a pé ou por bicicleta, por opção ideológica ou de forma de vida, também é algo que precisa ser enfrentado como um fenômeno do qual não se pode fugir.
Um outro aspecto é uma questão que não tem origem na gestão e operação dos transportes e da mobilidade. É a insegurança, apontada por quem usa como grande motivo de preocupação e por quem não usa, como motivo de procurar outros modos de transporte, notadamente o individual.
Voltando ao ano de 1994, quando iniciei na área de transporte e trânsito, também recebi a informação que a melhor forma de atender à população é adequar o equipamento, segundo sua capacidade, à demanda a ser transportada. Sem dúvida, essa assertiva é lógica e até mesmo uma forma de otimizar o atendimento aos usuários. Tratando especificamente de empresas de ônibus, como negócio, essa lógica vem trazendo consequências. Quando o número de passageiros é maior, como em grandes corredores, e a solução termina sendo a utilização de veículos de maior capacidade como BRT´s, VLT´s, trens e metrôs, onde, apenas o BRT é um sistema/equipamento operado pelas empresas de ônibus. Portanto, além do transporte particular, outros segmentos do transporte público foram "novoss entrantes" no negócio de transporte, não identificados pelos empresários do setor.
Esses são registros de algumas da causas da crise nas empresas. No próximo artigo continuaremos com algumas causas e discorreremos sobre a necessidade de gestão por resultados, como uma forma de minimizar os efeitos dessas causas.
Artigo by Ivan Carlos Cunha
Diretor de Consultoria e Engenharia da TCE
www.tceconsultoria.com
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