Uma das questões que tem sido objeto de várias tentativas de análise de quem pensa e trabalha com cenários é, pegando um trecho de uma famosa música, "COMO SERÁ O AMANHÃ?".
Esse humilde Consultor vai tentar discorrer um pouco sobre os cenários para a Mobilidade, concatenados com uma visão mais abrangente, que envolve aspectos sociais, sociológicos e, principalmente, econômicos.
Muito se fala numa mudança de postura da população em relação aos hábitos e costumes ligados à questão de higiene. Acredito que, num primeiro momento, quando a vida no País voltar à "normalidade", as pessoas, de forma geral, vão manter essa maior atenção a essas, por hora, obrigações: lavar as mãos, ter mais cuidados com utilização de objetos e procedimentos, etc. Mas, naturalmente, aos poucos isso irá se perder com o tempo. Com raras exceções.
Comecei pela questão da higiene e essa loucura que se transformou a orientação e até mesmo obrigação das pessoas terem novos hábitos, porque fui instado a falar sobre o que poderá acontecer, por exemplo, na utilização dos veículos de transporte, notadamente coletivo - ônibus e metrôs. Como as pessoas irão se posicionar, se continuarão a utilizá-los, procedimentos, posturas e cuidados. Minha resposta a esse interlocutor foi na linha do que já foi dito acima. Num primeiro momento, temor, cuidados e profilaxia. Depois esse medo vai se esvair. Mas não pode ser desprezada a possibilidade de haver redução da utilização do já combalido transporte coletivo, até hoje decorrente de várias situações: falta de qualidade, falta de capacidade de pagamento, novas opções/tecnologias, novas prioridades etc. E isso precisa ser melhor estudado, observar o que vai acontecer em países onde a volta à normalidade vai acontecer antes do Brasil, com o fim do isolamento social. O comportamento dessas populações poderá servir de referência para o que poderá ocorrer no nosso País. Muitos poderão imaginar que utilizando o transporte individual estarão menos sujeitos à contaminação. As consequências do apelo sociológico sobre o uso do transporte individual, nossas cidades já conhecem há décadas.
Por outro lado, nada impede que gestores públicos e operadores do transporte, mantenham alguns cuidados que (alguns) operadores estão tomando. No Brasil, a questão da higiene nos veículos de transporte coletivo sempre foi deixada à margem das preocupações/ações, por esses atores. E isso precisa mudar. Vale salientar que a NTU - Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos, em sua página principal tem uma série de recomendações, inclusive para os usuários, além das orientações comuns, evitar pegar os veículos no horário de pico e manter as janelas abertas, por exemplo. A observação é que parte da frota de ônibus precisaria de modificações nas suas estruturas, pois há vários modelos de janelas onde a abertura é apenas na parte superior, principalmente os ônibus com ar condicionado. Vai requerer investimentos do setor.
Por falar no setor, a própria NTU apresenta uma preocupação com a situação financeira das empresas, muitas em situação bastante complicada. Basta observar que a considerável redução de passageiros, consequentemente de receita, não as exime de arcar com seus custos fixos e parcelamentos e encargos referente a aquisição de veículos, por exemplo. O Ministro da Economia abordou o assunto, ciente da necessidade, inclusive, de apoio e de alternativas para manter o equilíbrio econômico e financeiro do setor. Isso faz lembrar da famosa CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Lei Nº 10.336/2001), criada dentre outras coisas, para subsidiar o Transporte Coletivo, notadamente suas infraestruturas. Nada ou quase nada do que foi arrecadado foi investido com essa finalidade. Foi utilizado para "rechear" o superávit primário em governos anteriores.
As incertezas ainda pairam e dificultam qualquer análise sobre esse "Amanhã". Mas uma coisa é certa. Transporte Coletivo sempre será a solução para uma Mobilidade Saudável em nossas cidades. E não pode ser custeado, essencialmente, pela tarifa paga pelos usuários. E a necessária gestão, a partir da vivência presente, atenta aos cenários futuros, precisa ser foco de gestores públicos, operadores e da sociedade como um todo.
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